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DIALÉTICA DO SENHOR E DO ESCRAVO HEGEL

  • Foto do escritor: Gremio  Estudantil
    Gremio Estudantil
  • 9 de abr. de 2023
  • 6 min de leitura

Atualizado: 20 de ago.

Escrito por Alysson Guilherme Bochi

Ex aluno da escola Adelaide Konder.


A dialética do senhor e do escravo trazida por Hegel fala basicamente sobre autoconhecimento, hierarquia ou dependência e relações humanas.

Autoconhecimento: Hegel utiliza a questão do ser que para ser conhecido precisa do outro, pois o próprio não consegue enxergar a si mesmo e não tem conhecimento sobre si mesmo, portanto, não existe, e para existir necessita de um ser externo para só aí ter conhecimento da própria existência.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel
Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Neste dilema vejo muita semelhança com o dilema do ouriço de Schopenhauer, onde o ouriço sente frio no inverno e precisa se aquecer, porém não consegue sozinho e necessita de outro ouriço para se aquecer, ele então encontra outro ouriço e eles se aquecem. No entanto surge outro problema já que os ouriço começam a sentir dor pelos espinhos do outro ouriço, assim é então construído o dilema, uma constante relação entre o medo da solidão e da morte, a falta de consciência dos próprios espinhas e a necessidade do outro para conhecer os próprios espinhos. Não importa quanto tempo você passe consigo mesmo, não importa quantas horas você passe na frente do espelho e nem quantos livros de autoajuda você leia, os outros sempre saberão mais sobre um ser do que o próprio, afinal este não tem consciência de suas palavras e nem de seus atos no dia a dia.

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Através da alegoria de Hegel podemos interpretar o escravo como alguém desprovido da consciência da própria existência e das próprias capacidades, e por isso é ferramenta daquele que já tem consciência da própria existência e da necessidade do outro em sua vida (o senhor), porém a alegoria também traz a possibilidade dos papéis se inverterem em dado momento pois o escravo tomaria consciência da própria existência e capacidade de ser algo além de um reles escravo e então se rebelar contra seu senhor tomando o “poder” para si e fazendo o antigo senhor o escravo e o próprio assumindo a posição de senhor. A partir desse princípio percebemos que nem mesmo o senhor está livre de falta de conhecimento de si próprio, pois afinal tinha fraquezas que foram exploradas por seu subordinado e por isso se tornou (ou voltou a ser) um escravo, talvez não escravo de seu senhor, mas um escravo de si mesmo.


A partir dessa parte da alegoria de Hegel também vemos uma nova premissa, para que exista um senhor sempre irá existir um escravo e para que exista um escravo sempre existirá um senhor.


Hierarquia: A partir desta nova premissa temos um novo dilema o encaixe de hierarquia na alegoria de Hegel, este que também é enxergado por Karl Marx e que serve de inspiração para a construção de seus ideais. A questão da hierarquia é um conceito muito presente na sociedade e em nosso dia a dia, pois em dado momento do dia sempre nos vemos em posições inferiores ao outro, às vezes por necessidade, às vezes por opção e às vezes por construção social. O filho é inferior ao pai, o pai é inferior ao chefe, o chefe é inferior ao estado e por aí vai. Não importa quem você seja e nem onde vá, sempre irá haver alguém acima de você, o filho pode ser inferior ao pai em dado momento, porém o mesmo pode ser superior a outro ser em determinada relação social, um relacionamento, a um colega na escola ou até algum amigo durante uma brincadeira.

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Que interessante não é mesmo, a hierarquia proporciona uma relatividade constante nas relações sociais, pois aquele que é escravo também pode ser senhor e por muitas vezes nem tem consciência disso mas o seu escravo tem consciência que este é o senhor, por isso o respeita e age com inferioridade mediante a sua presença. Por muitas vezes nestas relações de hierarquia a pessoa abaixo age de maneira extremamente respeitosa perceba, a pessoa muitas vezes por sentir inferior não consegue olhar nos olhos do seu “senhor”, também diminui-se o tom de voz, age-se de maneira respeitosa e sempre deixa a última palavra ser dita por seu superior. Porém em algum momento a pessoa que está acima da hierarquia naquele momento exigiu tal comportamento? Não, esse comportamento foi tomado naturalmente sem nenhum tipo de imposição ou proibição do contrário.

Assim surge uma nova questão hierárquica, será que o senhor tem consciência de que ele é senhor de alguém? Veja bem, quem o está colocando acima é o próprio escravo na determinada situação, não necessariamente o senhor irá escravizar alguém para ser senhor, ele não precisa, as próprias pessoas se escravizam, afinal a todo momento nos colocamos em situações onde dependemos do outro e os outros também se colocam em situações onde dependem de nós, isso são construções sociais e simplismente relações humanas.


Relações humanas: Um ser só percebe que existe baseado na existência de outro ser segundo Hegel e em dado momento existirá uma relação hierárquica entre eles, portanto um é o ser usado e o outro o ser que usa. Isso realmente é verdade e acontece constantemente nas relações sociais e de forma alguma deveria ser espantoso se afirmar que as pessoas são objetos ou ferramentas. Mas aí as pessoas dizem "Nossa, mas que maldade dizer isso, as pessoas não são objetos, elas tem sentimentos!”, mas você realmente se importa com esses sentimentos? Se eu te perguntasse agora o nome do motorista do seu ônibus você saberia? E a tia da cantina, a moça da panificadora, o motoboy, o lixeiro, etc, você provavelmente não sabe o nome deles e muito menos se importa com o que eles pensam ou sentem.

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A única coisa em que lhe interessa é a função que eles desempenham, portanto apesar de dizer que as pessoas não são ferramentas nós as tratamos como tal regularmente. Sendo as pessoas “ferramentas” e desempenhando determinada função diariamente nos mais diversos empregos diferentes, elas acabam por desempenhar a sua função para muitas outras pessoas diferentes que acabam por um determinado tempo sendo seus supostos senhores e eles não precisam ser donos de grandes empresas e nem terem muito dinheiro para isso, assim como foi exemplificado anteriormente, afinal são trabalhos fundamentais para a prosperidade de nossa sociedade.

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Só que diferente da escravidão as pessoas na atualidade são livres para pararem de desempenhar suas funções quando desejarem, elas podem simplesmente se demitirem, óbvio que isso também tem consequencias e não é tão simples assim ficar desempregado, as pessoas precisam de seus empregos para susterem a si mesmas e a suas familias. Só que como é visto na escravidão alguém aprisionou e obrigou os escravos a trabalharem e fazerem coisas contra a sua vontade, mas na atualidade quem estaria escravisando e obrigando as pessoas? Elas mesmas, as próprias pessoas acabam se aprisionando, sendo por causa de suas decisões, seus gastos excessivos ou até para sustentar algum vício. E por essa finalidade acabam tendo que não se escravizar, mas sim vender o seu tempo e seus serviços para alguém os valorize mais que você e acabe te pagando por isso.

Karl Heinrich Marx
Karl Heinrich Marx

Diferente do que Marx interpretou de Hegel anterior em uma sociedade capitalista sem desenvolvimento algum totalmente dominada por pessoas que tinham grandes quantias de dinheiro, na atualidade se tem muita liberdade dentro do trabalho como o empreendedorismo e as microempresas. A dialética do escravo não está errada, porém está desatualizada, afinal na sociedade onde vivemos a relação entre o senhor e o escravo evoluiu. Ainda existem Senhores e Escravos, porém as pessoas têm a possibilidade de serem Escravas de si mesmas ou Senhores de si mesmas. E o que provou isso foi o senhor de todas as coisas, que criou o céu a terra e todas, aquele que dita como as coisas funcionam no presente, passado e futuro, o todo poderoso tempo.

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O Tempo: O tempo é fundamental para tudo exista e para que tudo se adapte, o que é ruim hoje pode se tornar bom, e o que bom pode se tornar ruim, o mundo evoluiu e as pessoas evoluíram, porém o tempo continua o mesmo. Ele é o bem mais escasso da sociedade e que todas possuem igualmente durante todos os dias. Não importa se você é rico ou pobre, baixo ou alto, gordo ou magro, o tempo que você tem é o mesmo que o meu. O que diferencia as pessoas é a forma que você valoriza e distribui o seu tempo.

E caso na atualidade você não saiba ou não tenha a capacidade de gerir o seu próprio tempo existem pessoas espalhadas pela sociedade que estão dispostas a valorizar esse seu tempo e trocar ele por dinheiro. E essa é a nova relação estabelecida entre patrão e funcionário. Onde um depende do outro e sempre é feita uma troca. Caso um não esteja mais satisfeito em fazer esta troca existem outras pessoas que compram e vendem o seu tempo.


Texto - Alysson Guilherme Bochi


 
 
 

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